INTRODUÇÃO
No Brasil, o processo de envelhecimento demográfico ocorre de maneira acelerada. Entretanto, com o avançar da idade os indivíduos se tornam mais vulneráveis ao surgimento de doenças crônicas, e consequentemente, à necessidade de acesso aos serviços mais especializados e de maior custo1.
A atenção Primária à Saúde é a principal porta de entrada no Sistema Único de Saúde (SUS) e coordenadora do cuidado2; sendo assim, é essencial o desenvolvimento de estudos sobre a assistência prestada neste nível de atenção, especialmente, à população idosa. Em estudos nacionais realizados no Brasil, concomitantemente à maior procura, pelos idosos, por atendimento na Unidade Básica de Saúde (UBS)3, evidenciou-se a fragilização da assistência, devido à falta de capacitação do profissional e à baixa resolubilidade das demandas apresentadas por esse segmento etário(4, 5) o que poderá interferir no cuidado longitudinal desses indivíduos.
Diante disso, salienta-se que a enfermagem latino-americana empreende a formação de um corpo coletivo que identifica cenários conforme as particularidades de cada país ou região, tornando visível seu efeito na melhoria dos modelos de saúde6 e consequentemente na atenção a grupos populacionais específicos.
Neste contexto, destaca-se a qualidade da assistência em saúde no atendimento ao idoso. Esta refere-se aos aspectos técnicos e interpessoais que o profissional vai transmitir ao usuário, sendo que essa qualidade é proporcional à sua eficácia. A qualidade de assistência pode ser avaliada por meio de três dimensões: estrutura, processo e resultado7. Neste estudo, tem-se como objeto o processo, que denota o que é realmente feito no cuidado ao indivíduo, bem como as atividades do profissional relacionadas ao diagnóstico, à recomendação ou à implementação do tratamento7.
Ao considerar a relevância da Atenção Primária à Saúde e do enfermeiro no atendimento ao idoso e o uso de indicadores para avaliar a qualidade da assistência, o atual estudo busca ampliar o conhecimento sobre a temática e contribuir para a melhoria da atenção à saúde dessa população, visto a escassez de avaliação nesta área, com foco na atuação do enfermeiro. Espera-se que os indicadores de saúde auxiliem na avaliação dessa assistência e esse estudo possa contribuir para a gestão da atenção ao idoso redirecionando as ações realizadas pelo enfermeiro nesse nível de atenção. Infere-se que tais medidas apresentam boas propriedades relacionada à aplicação, porém com baixa utilização dos indicadores na Estratégia de Saúde da Família (ESF).
Assim, objetivou-se avaliar a confiabilidade, viabilidade, usabilidade e a utilidade dos indicadores de qualidade da assistência ao idoso na Atenção Primária à Saúde e descrever a qualidade da assistência de enfermagem ao idoso nesse nível de atenção.
MATERIAL E MÉTODO
Desenho do estudo: Estudo transversal, com abordagem quantitativa, considerando as pro priedades a serem estudadas (confiabilidade, viabilidade, usabilidade e a utilidade) na aplicabilidade dos indicadores.
População: Esta pesquisa foi desenvolvida em um município no interior de Minas Gerais, que possui 17 ESF8. Para a coleta dos dados foi identificada e selecionada aquela com o maior percentual de idosos adscritos, considerando o objeto de estudo. Os critérios de inclusão da ESF foram: localização na área urbana do referido município, com equipe profissional completa (agente comunitário de saúde, auxiliar/técnico de enfermagem) e com um ano ou mais de tempo de serviço na UBS. Excluíram-se aquelas cujos enfermeiros estivessem afastados (licença ou férias).
A população do estudo foi composta pelos profissionais de enfermagem (indicadores coletados por meio de entrevista) e prontuários de idosos (indicadores coletados por meio de supervisão) da ESF selecionada, gestores municipais da secretaria de saúde (avaliação da utilidade e usabilidade) e avaliador de campo (avaliação da confiabilidade e viabilidade/disponibilidade).
Os prontuários analisados referem-se aos idosos cadastrados na ESF no período de 13 de dezembro 2018 a 12 de dezembro de 2019, totalizando 545 prontuários de idosos cadastrados na ESF; para os indicadores coletados por meio de supervisão, foi selecionado o primeiro prontuário, aleatoriamente, e os demais conforme Intervalo Amostral (IA) de cada indicador, dado por IA= Número de idosos Elegíveis (NE)/30. O tamanho da amostra foi de 30 casos, pois este é considerado o número mínimo para análises de confiabilidade9; o intervalo entre as duas coletas preconizadas neste tipo de estudo foi de 30 dias devido às restrições causadas pela pandemia da COVID-19. Foram considerados como critérios de inclusão da amostra os prontuários de idosos com 61 anos ou mais e cadastrados na ESF selecionada há pelo menos um ano. Os prontuários foram identificados por números visando garantir o anonimato dos dados.
Procedimentos de coleta de dados e variáveis: A coleta dos dados foi realizada por um avaliador de campo, sendo a primeira entre 14 de dezembro de 2020 e 21 de abril de 2021, período em que foi necessário interromper a coleta de dados devido à restrição de permanecer no serviço de saúde, em razão da pandemia da COVID-19, justificando o tempo desta primeira coleta. A segunda coleta de dados ocorreu entre 21 e 28 de maio de 2021.
A confiabilidade dos 5 indicadores de qualidade de gerência coletados por meio de entrevista com o enfermeiro, técnicos de enfermagem e agentes comunitários: 1) Planejamento de atividade di-recionadas a população idosa; 2) Monitoramento da mobilidade física dos idosos; 3) Avaliação das ações de saúde direcionadas a população idosa; 4) Coordenação da equipe de enfermagem no cuidado ao idoso e 5) Coordenação dos agentes comunitários no cuidado ao idoso, foi mensurada com análise de concordância teste-reteste com intervalo 30 dias. Assim, os 17 indicadores de qualidade para o processo de cuidado coletados por meio de supervisão de prontuários; 6) Cobertura da consulta de enfermagem ao idoso; 7) Avaliação do idoso na consulta de enfermagem; 8) Cobertura da consulta para rastreamento de diabetes mellitus; 9) Cobertura da consulta de enfermagem ginecológica; 10) Avaliação da idosa na consulta de enfermagem ginecológica;11) Cartão vacinal adequado; 12) Utilização da caderneta do idoso no atendimento de enfermagem; 13) Cobertura da consulta de enfermagem ao idoso com diabetes mellitus; 14) Avaliação do idoso com diabetes mellitus na consulta de enfermagem; 15) Cobertura da consulta de enfermagem ao idoso com hipertensão arterial sistêmica; 16) Avaliação do idoso com hipertensão arterial sistêmica na consulta de enfermagem; 17) Cobertura da consulta de enfermagem ao idoso com sobrepeso/obesidade; 18) Avaliação do idoso com sobrepeso/obesidade na consulta de enfermagem; 19) Cobertura da consulta de enfermagem ao idoso com hipertensão arterial limítrofe; 20) Avaliação do idoso com hipertensão arterial limítrofe na consulta de enfermagem; 21) Prescrição de cuidados em (AD1) e 22) Visita domiciliar realizado pelo enfermeiro ao idoso. As fichas de informação destes 22 indicadores encontram-se disponíveis online no Harvard Dataverse -sistema aberto para pesquisadores cadastrados10.
Quanto à viabilidade e disponibilidade, foi aplicado questionário ao avaliador de campo que coletou os dados na ESF, contendo quatro questões:
1) Os dados para compor este indicador estavam prontamente disponíveis, porém foram capturados sem encargos excessivos? (sim, não); 2) Quais foram as dificuldades relacionadas à coleta dos dados?; 3) Este indicador foi viável ser mensurado no contexto da Atenção Primária à Saúde brasileira? e 4) Qual é a sua avaliação geral sobre a viabilidade de coleta dos dados?11,12.
A usabilidade e a utilidade foram mensuradas por meio de instrumento direcionado aos gestores de saúde11,12, contendo quatro questões: 1) O indicador pode ser útil para informar sobre a qualidade da assistência de enfermagem ao idoso na Atenção Primária à Saúde? (sim, não);
2) O indicador pode ser útil para determinar o recebimento de incentivos financeiros (ex. PMAQ) pelo desempenho da equipe ou unidade de saúde na Atenção Primária à Saúde? (sim, não); 3) Qual é a sua avaliação geral sobre a utilidade (uso) deste indicador para comparar os relatórios públicos entre as ESF? e 4) Qual é a sua avaliação geral sobre a utilidade (uso) deste indicador para relatórios públicos ao nível das áreas geográficas (estados, municípios, cidades, bairros)? Este instrumento foi aplicado ao responsável pelo Departamento de Gestão do Fundo Municipal de Saúde.
Para avaliar a qualidade da assistência de enfermagem ao idoso utilizaram-se os 22 indicadores (5 gerenciais e 17 relacionados ao cuidado de enfermagem), que englobam as atribuições específicas do enfermeiro na Atenção Primária à Saúde do idoso10.
Análise dos dados: A confiabilidade dos dados foi mensurada por análise de concordância entre as coletas por meio do índice Kappa no programa GNU PSPP Statistical Analysis Software versão 1.0.1. O nível de concordância foi dado conforme os intervalos: < 0,10= ausente; 0,11-0,40= fraca; 0,41-0,60= discreta; 0,61-0,80= moderada; 0,80-1= substancial13.
A viabilidade de coleta dos dados foi dada em escala de 1a 9, quanto maior, melhor a viabilidade. Para utilidade e usabilidade foi utilizada escala variando de 1 ponto (não recomendado) a 9 pontos (altamente recomendado); considerou-se a pontuação baixa (1-3 pontos), intermediária (4-6 pontos) ou alta (7-9 pontos)11,12.
Para avaliar a qualidade da assistência de enfermagem foi utilizada análise descritiva por meio de frequências absolutas e percentuais.
Aspectos éticos: O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, parecer n° 1.085.438, res-peitando-se os princípios da Resolução n° 466/12 do Conselho Nacional de Saúde14.
RESULTADOS
Quanto à população do estudo, para a equipe de enfermagem, foram entrevistados 7 profissionais, todos do sexo feminino, sendo 5 agentes comunitários, um técnico de enfermagem e um enfermeiro. Referente aos 30 prontuários dos idosos, foram selecionados conforme orientação na ficha do indicador, sendo para a maioria utilizados 14 mulheres e 16 homens (exceto para consulta ginecológica), com maior percentual entre 60 e 69 anos (40%) seguido por 70 a 79 anos (36,7%).
Confiabilidade (Tabela 1): A confiabilidade teste-reteste referente aos 5 indicadores de qualidade de gerência, obteve 100% de respostas concordantes. Nos 17 indicadores de qualidade para o processo de cuidado, a confiabilidade foi calculada em 6 indicadores que obtiveram entre 0,9 a 1 ponto (considerada substancial). Nos demais, pelo fato de pelo menos em uma das coletas ter resposta "não" constante nas 30 amostras devido à incompletude de registros nas consultas, não foi possível calcular o índice Kappa; assim foi contabilizado o número de respostas concordantes. No indicador "Utilização da caderneta do idoso no atendimento de enfermagem", pelo fato da ESF não receber a caderneta há certo tempo, não foi possível verificar esses dados, impossibilitando a formação da amostra para coleta.
Viabilidade/disponibilidade, Utilidade e Usabi-lidade (Tabela 2): Dentre os 22 indicadores cole-tados, constatou-se que 5 não estavam disponíveis, e 2 foram considerados inviáveis e receberam notas 5, segundo o avaliador, nas duas etapas de coleta. Esse fato refere-se à ausência de registro de algumas variáveis nos prontuários, informações incompletas e/ou faltosas, impossibilitando a coleta do dado. Já 15 indicadores estavam disponíveis, foram considerados viáveis e receberam notas superiores a oito pelo avaliador nos dois momentos de coletas.
Apesar desses dados, foram observadas algumas limitações e dificuldades na coleta destes indicadores referentes às informações completas e relevantes para promover o cuidado preciso e prevenir problemas futuros para o idoso. No indicador Cobertura da consulta de enfermagem ao idoso com hipertensão arterial sistémica não foi encontrado a classificação de risco cardiovascular nos prontuários dos idosos com essa comorbidade. Nos indicadores cobertura da consulta de enfermagem ginecológica e avaliação da idosa, foi identificado número inferior de mulheres que não realizaram consulta ginecológica comparado com àquelas que realizaram consultas. Houve também falta de listas organizadas e separadas, como idosos que faziam parte do grupo de HIPERDIA (hipertensos e diabéticos) e idosas que realizaram exames ginecológicos. A falta dessas listas exigiu que o avaliador verificasse cada um dos prontuários aumentando o tempo para coleta dos dados.
O questionário para a avaliação da utilidade e usabilidade, foi aplicado com o responsável pelo Departamento de Gestão do Fundo Municipal de Saúde. Todos os indicadores obtiveram respostas positivas (Sim) sobre ser útil para qualidade da assistência e para determinar o recebimento de incentivos financeiros.
Na avaliação sobre a usabilidade, para comparar os relatórios públicos entre as ESF e em nível das áreas geográficas, todos os indicadores foram altamente recomendados e obtiveram de 7 a 9 pontos.
Qualidade da assistência de enfermagem (Tabela 3): São apresentados indicadores que contribuem para a reflexão acerca do registro das atividades realizadas pelo enfermeiro, que podem influenciar o resultado de cada indicador. A seguir, encontrase o percentual de realização de cada indicador, ou seja, o quanto ele foi utilizado, segundo o avaliador (Tabela 3). A maioria dos indicadores apresentam baixo percentual de realização, exceto indicadores de qualidade de gerencia 4 y 5, e indicadores de qualidade do processo de cuidado 6 y 11 referidos a Cuidados aos idosos em geral, e 17 referido a Cuidados aos idosos em condições específicas.
A Tabela 4 apresenta as observações feitas pelo avaliador em alguns indicadores, evidenciando as dificuldades encontradas para coleta destes com destaque para àqueles com informações incompletas.
DISCUSSÃO
No que concerne a confiabilidade entende-se que o enfermeiro tendo o papel como gestor na Atenção Primária à Saúde, é responsável por fazer uso de ferramentas gerenciais, dentro as quais se destaca a organização do trabalho e o gerenciamento de informações e pessoas. Ademais, ressalta-se que a anotação completa e adequada nos prontuários dos idosos durante a consulta de enfermagem, é uma das funções gerenciais e organizativas do enfermeiro15. Pesquisa com enfermeiros na Suíça evidenciou que durante a consulta de enfermagem os sinais vitais e dados antropométricos foram medidos com mais frequência, além de testes de laboratório solicitados mais frequentemente comparados à atenção médica, denotando capacidade de oferecer cuidados ao número crescente de idosos multimórbidos e poli farmacêuticos na Atenção Primária à Saúde16.
Salienta-se que as características populacionais, aliadas à presença de doenças crónicas nos idosos, requerem uma nova abordagem de cuidados, promovendo a articulação entre os diferentes níveis de cuidados. Nesse sentido, destaca-se a função do enfermeiro gerente de caso na Atenção Primária à Saúde, como o principal responsável por garantir a continuidade do cuidado em pacientes complexos com doenças crónicas. Estudo de revisão evidenciou o papel eficaz e eficiente tanto para pacientes quanto para instituições de saúde, sendo necessário um modelo de prática comum que inclua protocolos padronizados e práticas baseadas em evidências17.
Destaca-se que a utilização da caderneta do idoso no atendimento de enfermagem oferece suporte tanto para os idosos quanto para os profissionais, pois auxilia na identificação de situações de risco e vulnerabilidade, tal como na prevenção de doenças e na manutenção da autonomia do idoso18. Ademais, permite o registro e o acompanhamento, pelo período de cinco anos, de informações sobre dados pessoais, sociais e familiares, condições de saúde e hábitos de vida, identificando as vulnerabilidades, além de ofertar orientações para seu autocuidado19.
Uma pesquisa realizada no Rio Grande do Sul, também encontrou entraves envolvendo o uso da caderneta do idoso, como: desconhecimento da utilidade prática da caderneta pelos profissionais, grande parte não considera como uma ferramenta para o cuidado continuado, e em geral, os profissionais da saúde deixam de preenchê-la por pensarem ser uma tarefa exclusiva da enfermagem20. Outro estudo realizado em Belo Horizonte, identificou limitações na execução das atividades com a caderneta, como a incompatibilidade nas informações fornecidas relacionadas ao analfabetismo funcional, tanto da pessoa quanto dos responsáveis, como também os aspectos cognitivos do idoso21.
O uso e o preenchimento adequado da caderneta são relevantes para a continuidade do cuidado ao idoso, porém ainda existem dificuldades enfrentadas pelo preenchimento dos profissionais, entendimento dos idosos e ainda a falta do instrumento, como é o caso da presente pesquisa. Por isso, cabe ao enfermeiro da ESF obter o máximo de informações possíveis do idoso na consulta, anotá-las adequadamente nos prontuários e fornecer orientações corretas e com linguagem simples para o idoso, família e cuidador, além de instruir toda a equipe no cuidado. Além disso, para tentar solucionar os demais entraves, sugere-se a capacitação da equipe multiprofissional da ESF realizando a abordagem da importância da caderneta do idoso, a forma de preenchimento, quem pode realizar esta anotação e a sua eficácia para a continuidade do cuidado ao idoso. Assim, espera-se melhorar a abordagem das informações e orientações à população idosa, proporcionando maior autonomia no cuidado e nas decisões sobre saúde.
A inviabilidade e disponibilidade de coleta em alguns indicadores referindo-se à ausência de registro de algumas variáveis nos prontuários, informações incompletas e/ou faltosas impossibilitando a coleta do dado, concorda com estudo realizado em Montes Claros, norte do estado de Minas Gerais (MG), o qual identificou que as ESF também não tinham cronograma com atividades específicas para idosos. Os profissionais usam estratégias para atender às necessidades dos usuários, por exemplo, com hipertensos e diabéticos22.
Avaliar a qualidade da documentação é crucial para o atendimento eficaz ao usuário e obtenção de resultados de saúde23.Toda atividade de enfermagem deve produzir documentação com pensamento crítico. Se as anotações dos profissionais não forem claras e precisas, a comunicação inter profissional e a avaliação dos cuidados de enfermagem podem estar aquém do esperado24.
Nos indicadores de qualidade para o processo do cuidado, observaram-se dificuldades para encontrar informações completas e relevantes para promover o cuidado preciso e prevenir problemas futuros para o idoso. Destaca-se que a segurança do paciente deve ser alvo de preocupação para os enfermeiros e profissionais de saúde. É necessário que todo processo de enfermagem seja executado de acordo com o padrões aplicados e de forma sustentável para atendimento das necessidades e viabilização da segurança do usuário24, visando maximizar e potencializar a qualidade da atenção oferecida. Cabe ressaltar, que o uso da estratificação de risco na consulta de enfermagem ao idoso com hipertensão arterial sistêmica deveria ser inserida aos métodos de serviços da equipe de saúde com o intuito de qualificar a assistência prestada aos idosos com doenças crónicas, e assim, interceder de maneira precoce, objetivando minimizar a possibilidade de manifestação de um evento cardiovascular25.
Destaca-se ainda, que na atual pesquisa, após a análise dos prontuários dos idosos foi possível identificar avaliações incompletas realizadas pelo enfermeiro e algumas anotações estavam pouco legíveis, o que dificulta a continuidade e qualidade do cuidado. Fato condizente com estudo realizado em São Paulo, no qual apresentou como limitações a escrita manual ilegível disposta nos prontuários, organização das anotações, evolução, exames e documentos não seguiam uma sequência lógica e as escritas dos documentos não estavam nítidas devido à conservação5.
Acerca da cobertura da consulta de enfermagem ginecológica e avaliação da idosa evidencia-se que o enfermeiro e o médico desempenham papel fundamental na realização do rastreamento de câncer de mama no âmbito da Atenção Primária à Saúde, devendo realizar exame clínico das mamas, solicitações de mamografia, educação em saúde para realização do autoexame das mamas, para que assim haja a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de mama, de forma a contribuir para tratamentos menos invasivos e mutiladores26. No entanto, há evidências de fatores que interferem na adesão da idosa aos programas de prevenção, como: preconceitos da sociedade em geral em relação à velhice, disponibilidade de um acompanhante para a idosa até o serviço de saúde e precária capacitação dos profissionais, dificuldade de acesso aos serviço de saúde27. Somado a isso, este indicador pode ter como limitação a realização do exame em consultas médicas.
A avaliação do idoso com hipertensão arterial limítrofe deve ser preconizada nas consultas de enfermagem. Estudo bibliográfico, constatou que os idosos com pressão arterial menor que 130 mmHg possuíam riscos reduzidos para desfechos cardiovasculares e mortalidade28. Por isso, é relevante fazer o controle dos níveis pressóricos do idoso e cabe ao enfermeiro estar capacitado para observar e alterar os indicadores de riscos para resultar na diminuição dos diagnósticos de hipertensão arterial sistêmica e os seus possíveis agravos29.
A avaliação positiva da utilidade e usabilidade evidencia que os processos de avaliação têm papel decisório e fortalecem a autonomia dos enfermeiros para o desenvolvimento de estratégias e soluções baseadas em dados reais30. Assim, entende-se que os indicadores de assistência de enfermagem são essenciais para a avaliação dos serviços de saúde, e podem contribuir para a excelência do cuidado prestado ao usuário31. Esses estudos intensificam a importância da utilidade e usabilidade dos indicadores para avaliar a qualidade da assistência de enfermagem ao idoso, tal como foi confirmado, e altamente pontuado pelo gestor de saúde do município nesta pesquisa. Ainda, infere-se que as resposta positivas quanto à utilidade estejam relacionadas à especificidade de incentivos financeiros que o município oferece.
No que diz respeito e qualidade da assistência de enfermagem, reconhece-se que o baixo percentual de utilização dos indicadores, pode comprometer a qualidade de assistência, o cuidado e gerenciamento pelo enfermeiro, posto que ausência ou a incompletude de registros impossibilita identificar a adequação e ajuste às necessidades em saúde da população. A falta de indicadores de qualidade baseados em evidências representa um desafio na busca de documentação de enfermagem de alta qualidade. Ainda não se tem, na prática desses profissionais, critérios que devem ser atendidos para obter uma documentação de alta qualidade. Assim, alinhar a documentação com o processo de enfermagem, usando terminologias padronizadas e sistemas amigáveis é essencial. Essas descobertas podem ajudar a equipe de enfermagem e as organizações de assistência a melhorarem a qualidade da documentação de enfermagem32.
Esses dados reforçam a necessidade de reflexão acerca da qualidade dos dados disponíveis nas ESF, seja nos prontuários ou em documentos. O registro das informações realizado pelo enfermeiro faz parte da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), sendo considerada um fator essencial na prestação do cuidado clínico de enfermagem, porém seu uso ainda são barreiras a serem enfrentadas pelos profissionais de enfermagem33. Através das anotações registradas nos prontuários, é possível evitar perdas de informações, além de permitir o prosseguimento dos cuidados de enfermagem34.
Estudo internacional observou que pacientes que receberam cuidados de enfermeiros tiveram menos utilização de cuidados primários, cuidados especializados e serviços de internação, sugerindo melhoria da qualidade na Atenção Primária à Saúde35.
Destaca-se que os indicadores deste estudo foram construídos com base em publicações nacionais10, seguindo os princípios da Atenção Primária à Saúde no Brasil, limitando sua aplicabilidade ao trabalho do enfermeiro em ESF no contexto nacional, pois suas ações são normatizadas pelo Ministério da Saúde, emergindo a necessidade de novos estudos no tema em diferentes contextos e países.
CONCLUSÕES
O presente estudo identificou aspectos específicos saúde/doença do idoso e atribuições do enfermeiro da Atenção Primária à Saúde neste processo do cuidado.
A confiabilidade foi calculada em seis indicadores, sendo considerada substancial. Nos demais pelo fato de pelo menos em uma das coletas ter resposta "não" constante nas 30 amostras devido à incompletude de registros nas consultas, não foi possível calcular o índice Kappa; assim foi contabilizado o número de respostas concordantes.
Quanto à viabilidade/disponibilidade, sete indicadores não estavam disponíveis e, dentre estes, dois foram considerados inviáveis, segundo o avaliador, nas duas etapas de coleta. Esse fato refere-se à ausência de registro de algumas variáveis nos prontuários, informações incompletas e/ou faltosas impossibilitando a coleta do dado.
Já o questionário para a avaliação da utilidade e usabilidade, aplicado ao responsável pelo Departamento de Gestão do Fundo Municipal de Saúde, identificou que todos os indicadores obtiveram respostas positivas sobre a utilidade para determinar o recebimento de incentivos financeiros. Na avaliação sobre a usabilidade do indicador para comparar os relatórios públicos entre as ESF e em nível das áreas geográficas, todos os indicadores foram altamente recomendados.
Observou-se o baixo percentual de utilização dos indicadores na ESF. Os achados da pesquisa evidenciam a relevância de instituir os indicadores de qualidade de saúde na assistência de enfermagem na Atenção Primária à Saúde, com intuito de nortear estes profissionais a respeito do cuidado prestado, bem como aperfeiçoá-lo. Ademais, o estudo identificou carência nas anotações de enfermagem nos prontuários, falta de documentos e ferramenta, dificultando a continuidade assistência ao idoso. Por isso, é necessário que o enfermeiro juntamente com toda a equipe conheça e utilize adequadamente todas as ferramentas de gerenciamento para o seu empoderamento e autonomia na assistência prestada à população.