INTRODUÇÃO
A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é caracterizada pela limitação crôni ca do fluxo aéreo. A limitação do fluxo aéreo geralmente é progressiva e associada a uma resposta inflamatória anormal do pulmão, a partículas ou gases nocivos. Exacerbações e comorbidades contribuem para a severi dade da doença individualmente1. Atual-mente é a quarta causa de morte no mun do, representando um importante problema de saúde pública, desafio que é prevenível e tratável. Sendo a maior causa de mortalida de e morbidade crônica em todo o mundo, muitas pessoas sofrem desta doença por anos e morrem prematuramente por esta ou por suas complicações. Globalmente a DPOC esta projetada para aumentar, pois as pessoas continuam expostas a fatores de risco, sendo o tabagismo o principal, além de exposição a fogão a lenha, poluição ambiental, fatores ge néticos e desnutrição1. No Brasil, a DPOC e a terceira causa de morte entre as doenças crônicas não transmissíveis, com um aumen to de 12% no número de óbitos entre 2005 e 2010, o que representa atualmente quase 40.000 óbitos anuais decorrentes da DPOC2.
Além do comprometimento pulmonar a DPOC apresenta manifestações sistêmicas relacionadas, como: intolerância ao exercício físico, disfunção muscular periférica, altera ções nutricionais e exacerbações recorren tes levando a hospitalizações3. A perda de massa muscular, alterações nas fibras muscu lares e no fluxo sanguíneo, além de acidose láctica precoce, contribuem para a intolerân cia ao exercício físico (4). Além destes fatores, a dispneia é o principal sintoma desta doen ça, onde os pacientes tem uma redução das atividades de vida diária (AVD's), desencade ando assim o ciclo vicioso da dispneia, onde os pacientes cada vez fazem menos atividades e sentem mais falta de ar1,5,6.
O diagnostico da DPOC é confirmado através da espirometria pela razão do vo lume expiratório forçado no primeiro se gundo (VEF1) pela capacidade vital forçada (CVF) inferior a 70% do previsto obtido pela espirometria, além da história clínica dos pacientes7. Porém sabe-se que além da alteração pulmonar existem outras vari áveis importantes para o prognostico destes pacientes, bem como: o índice de massa cor pórea (IMC), a exposição ou não ao tabaco. As comorbidades ocorrem frequentemente em portadores de DPOC incluindo: doenças cardiovasculares, disfunções musculoesque-léticas, síndrome metabólica, osteoporose, depressão e câncer pulmonar, tendo uma grande importância na evolução e tratamen to destes pacientes. Assim os exames bioquí micos ou laboratoriais tornam-se um aliado importante para o diagnóstico de algumas comorbidades(8,9.10,11).
Assim, conhecer o perfil desses pacientes com DPOC torna-se fundamental na pre venção de comorbidades associadas a doença respiratória. Para tanto, com a realização do estudo, espera-se contribuir para a amplia ção das discussões sobre essa problemática e as comorbidades associadas que impõe ao paciente a limitação física e o aumento das taxas de mortalidade, bem como colaborar para a construção de uma prática que for taleça a abordagem multidisciplinar e inter disciplinar frente ao tratamento de pacientes com DPOC.
Portanto, o objetivo deste estudo foi de identificar o perfil demográfico, bioquímico e hematológico de uma população de pa cientes portadores de DPOC acompanhados em um Programa de Reabilitação Pulmonar na Universidade Feevale, Sul do Brasil.
MATERIAL E MÉTODO
Tipo de estuda e amostra: Estudo observacio nal descritivo, de correlação, com uma amos tra consecutiva de 83 pacientes com diagnós tico de DPOC segundo critérios definidos GOLD7 que participaram de um Progra ma de Reabilitação Pulmonar da Universida de Feevale na cidade de Novo Hamburgo/RS. Coleta de dados: Os dados foram coletados por profissionais da área da saúde, médico pneumologista, fisioterapeutas e bioquími cos. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram: história clínica, exame físico e a confirmação da obstrução do fluxo aéreo através da razão do volume expiratório for çado no primeiro segundo (VEF1) pela capa cidade vital forçada (CVF) inferior a 70% do previsto obtido pela espirometria. Todos os pacientes apresentavam DPOC de moderado a grave, definido por um VEF1<60% do valor previsto após o uso de broncodilatador7. Função pulmonar foi medida pelo teste de espirometria, onde o paciente foi orientado a ficar sentado com as pernas relaxadas e os pés no chão com o clip nasal a inspiração até a capacidade pulmonar total (CPT) antes da expiração forçada não deve ser muita rápi da. A pausa pós inspiração não deve exceder 3 seg, o número de tentativas deve levar em conta 3 curvas aceitáveis e duas reprodutíveis com no máximo 8 repetições, espirometro utilizado foi o Microlab ML-3500. Todos os pacientes participaram do PRP da Universidade Feevale no período de março de 2007 a dezembro de 2012.
Os pacientes responderam um questio nário padronizado com informações sobre: sexo, idade, peso, índice de massa corporal, histórico de tabagismo (Pack years), comorbidades, além das variáveis obtidas da espi rometria. Para avaliação antropométrica da massa corporal e da estatura, foi utilizada uma balança da marca Walmy, com precisão de 100g, e um estadiômetro fixo da marca Cardiomed, com precisão de 1mm. O his tórico de tabagismo (Pack years) foi obtido pelo cálculo onde se multiplica o número de maços de cigarro consumido pelo paciente por ano, então se obtém o pack years ou seja o número de maços fumados por ano.
O PRP tem duração de 12 semanas, ocor reu segunda, quarta e sexta-feira no turno da manhã. As sessões duravam em média duas horas, divididas em atividades físicas e palestras educacionais. Consistia em aque cimento, exercícios físicos aeróbicos com a utilização de esteira ergométrica, exercícios de fortalecimento de membros superiores, membros inferiores e alongamentos.
Após o período de reabilitação os pacien tes foram encaminhados ao laboratório de Biomedicina da Universidade para realizar os exames laboratoriais, foram realizados exames bioquímicos (glicemia, colesterol to tal, colesterol HDL, colesterol LDL, triglicerí-deos, ureia, albumina e creatinina) e hema tológicos (Hemoglobina, VCM, Eritrócitos, Leucócitos), para a realização destes exames os pacientes foram orientados a permanecer 12 h em jejum. Todos os pacientes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. A pesquisa foi iniciada após a aprovação pelo comitê de ética da Universidade Feevale, pro cesso número 4.08.03.08.1239.
Análise de dados: As variáveis da caracte rização da amostra foram representadas por estatística descritiva utilizando média e erro padrão da média, além da utilização do teste t de Student.
RESULTADOS
Foram incluídos 83 pacientes portadores de DPOC, 47 homens (56,6%) e 36 mulheres (43,4%) com idade média de 65,85 para ho mens e 65,16 para mulheres. Em relação ao hábito tabágico todos os homens eram ex-fumantes e 6 (16,6%) as mulheres nunca fuma ram. A HAS foi a comorbidade mais relevante em 21 (44,6%) dos homens e 14 (38,8%) das mulheres seguido de cardiopatias 8 (17%) dos homens e das 2 (5,5%) mulheres. O DM foi encontrado quase que exclusivamente em homens 7 (14,8%) e apenas 1 mulher (2,7%) (Tabela 1).
Outro aspecto importante a ser desta cado no estudo são pacientes com mais de uma comorbidades, 3 (6,4%) dos homens apresentaram mais de uma e 4 (8,5%) com as três comorbidades pesquisadas, enquanto nas mulheres apenas 1 (2,7%) paciente com duas.
Os resultados dos exames laboratoriais hematológicos estão apresentados na Tabela 2. Os valores estão apresentados como mé dias para homens e mulheres respectivamen te. Hemoglobina de 14,5 e 13,7 (g/100mL), estes valores diferem significativamente en tre homens e mulheres. O hematócrito cor responde a 43,9 e 42,1%, o Volume corpus cular médio (VCM) foi de 90,4 e 90(|/), os eritrócitos estavam entre os valores de 4,9 e 4,7 (x106/mm3) e os Leucócitos foram 7556 e 7095 (mm3).
Conforme podemos observar na Tabela 3, os valores estão aparentados como médias para homens e mulheres respectivamente. Os exames laboratoriais bioquímicos como a média da glicemia mostraram uma diferença estatística entre homens 104,2 e mulheres 89,8 (mg/dL). Os valores de médios para o Colesterol Total (CT) foram de 187,5 e 201,3 mg/dL. Os valores médios de HDL, LDL e Triglicerídeos (TGL) foram respectivamente: 50,8 e 61 mg/dL; 113,2 e 118,3 mg/dL; 125,5 e 112 mg/dL. A média dos valores encontra dos para a ureia foram 34,6 e 32,2 mg/dL. A Albumina e a Creatinina média foram res pectivamente, 4,1 e 4,0 mg/dL e 1,1 e 0,9 mg/ dL. Os exames laboratoriais são importantes aliados no controle e acompanhamento da evolução do DPOC.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Em 2020 a DPOC esta projetada para ser a causa de morte de mais de 6 milhões de pes soas anualmente no mundo, tornando as sim a terceira causa de morte no mundo o conhecimento da doença tem melhorado muito nos últimos 10 anos. Estudos epide miológicos têm demonstrado a importância de sabermos também as comorbidades nes ses pacientes uma vez que a sua mortalidade pode ser influenciada1,12,13,10.
Doenças cardíacas e vasculares estão as sociadas com mortalidade e admissão hos pitalar, piora da qualidade de vida e estão frequentemente acompanhadas a outras comorbidades como a diabetes e DPOC. A pre sença de diabetes em portadores de DPOC pode aumentar a mortalidade associado a cardiopatias, as taxas de internações hospi talares, diminuição da qualidade de vida e a funcionalidade destes pacientes14. Os mecanismos fisiopatológicos conhecidos nas alterações vasculares de DPOC parecem ser principalmente mediados por disfunção en-dotelial e coagulopatias. Onde a inflamação sistêmica observada no DPOC parece ter um papel determinante no desenvolvimen to de disfunções, pulmonares, sistêmicas e endotelial embora o mecanismo exato ainda é desconhecido. As doenças coronarianas e DPOC são ambas as doenças inflamatórias e envolvem anomalias da coagulação onde a presença da DPOC pode contribuir para o desenvolvimento de doenças cardiovascula res através da dispneia, inflamação sistémi ca e stress oxidativo8. Um estudo recente com 342 portadores de DPOC onde três me ses após a primeira exacerbação 64% destes tinham alterações cardíacas significativas avaliadas por ecografia transtorácica, porém no presente estudo foi encontrado que 17% dos homens eram cardiopatas em 5,5 % das mulheres15.
Neste estudo pode-se observar que os va lores dos parâmetros bioquímicos avaliados encontram-se dentro da normalidade, exceto para a glicemia que foi significativamente maior nos homens quando comparado com as mulheres e o colesterol que foi maior que o limite desejável para mulheres, embora a média dos valores de glicemia neste grupo permanecem dentro da faixa de pre-diabe-tes conforme16. Esta comorbidade já foi identificada por outros estudos, uma preo cupação considerando que a prevalência de diabetes em pacientes com DPOC variam entre os estudos 10,3% no centro de reabi litação17, 12,6 a 14,5%18, 12,2% com um aumento do risco para fumantes ativos19 e 18,7%20 onde em nosso estudo foi encontrado 14,8 % dos homens com DM, sendo esta comorbidades a única que tem uma diferença estatisticamente significativa. Um estudo de Coorte demonstrou que pa cientes que apresentam DPOC moderado a grave tem aumento no risco de desenvol ver Diabetes (OR 1,4 e 1,5 respectivamente)18. Outra preocupação com pacientes dia béticos é a presença de inflamação sistémica, que esta associada com disfunção endotelial e pode contribuir em manter o processo in flamatório pulmonar independente do grau de obstrução do fluxo aéreo em portadores de DPOC21.
Estudos sugerem que DPOC pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de dia betes tipo 2 por ser uma doença inflamató ria crônica com aumento de interleucinas (IL-6, IL-8) e Fator de Necrose Tumoral alfa (TNF a) e outros mediadores inflamatórios que podem implicar em resistência a insuli na22. Além do comprometimento das al terações inflamatórias pulmonares pacientes diabéticos com DPOC tem alterações mus culares periféricas que aceleram o processo de perda de massa muscular, sendo um pre-ditor de mortalidade independente do grau de obstrução do fluxo aéreo23. Estudos demonstram que o paciente diabético tem comprometimento funcional considerável associado à redução da qualidade de vida, al terações essas bem evidenciadas em portado res de DPOC24,25,26.
Embora não necessariamente causalmen te associada com a doença, à existência de DPOC podem realmente aumentar o ris co de outra doença. Comorbidades podem ocorrer em pacientes em qualquer grau de obstrução da doença e não esta restrita a do ença avançada. Entretanto as comorbidades são associadas com aumento da morbidade e mortalidade. A reabilitação pulmonar é uma intervenção não farmacológica com bene fícios para pacientes com DPOC e nas suas comorbidades1,10,27,28.
Em conclusão, os resultados do estudo identificaram o perfil dos pacientes porta dores de DPOC onde observa-se que os re sultados dos exames bioquímicos e hema tológicos, exceto a glicemia e colesterol total para mulheres, estão dentro da normalidade. Contudo, são necessários mais estudos sobre o perfil demográfico, clínico e laboratorial de pacientes portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica no Brasil no sentido de caracterizar melhor esta população e propor cionar um tratamento mais individualizado ao paciente de acordo com as características de cada região.
Com base nesse conhecimento, podem-se apontar estratégias de trabalho mais condi zentes com a realidade e políticas mais efi cazes que busquem estimular uma maior integralidade na assistência aos indivíduos com DPOC, realizando ações de promoção e prevenção, uma vez que as comorbidades as sociadas a doenças podem ser minimizadas. Sendo fundamental a participação da equipe multidisciplinar e da sistematização da assis tência de enfermagem, para traçar um plano de cuidados ao paciente portador de DPOC, bem como o acampamento dos parâmetros clínicos e laboratoriais de forma sistemática.