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Ciencia y enfermería

versión On-line ISSN 0717-9553

Cienc. enferm. vol.22 no.1 Concepción abr. 2016

http://dx.doi.org/10.4067/S0717-95532016000100010 

 

INVESTIGACIONES

 

CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA E OBSTÉTRICA DE PUÉRPERAS INTERNADAS EM ALOIAMENTO CONJUNTO NO BRASIL

SOCIODEMOGRAPHIC AND OBSTETRIC CHARACTERISTICS OF POST-PARTUM WOMEN ADMITTED TO ROOMING-IN CARE IN BRAZIL

CARACTERIZACIÓN SOCIODEMOGRÁFICA Y OBSTÉTRICA DE LAS PUÉRPERAS INTERNADAS EN EL ALOJAMIENTO CONJUNTO EN BRASIL

 

Andressa Peripolli Rodrigues*
Stela Maris de Mello Padoin**
Juliane Días Aldrighi***
Cristiane Cardoso de Paula****

Lorena Barbosa Ximenes****

* Enfermeira. Doutora em Enfermagem, Professora do Instituto Federal Farroupilha, Santo Ângelo/RS, Brasil. Email: andressaufsm@hotmail.com
** Enfermeira. Doutora em Enfermagem, Professor Adjunto no Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria/ RS, Brasil. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. E-mail: stelamaris_padoin@hotmail.com
*** Enfermeira. Mestranda em Enfermagem pela Universidade Federal do Paraná, Curitiba/PR, Brasil. E-mail: ju_aldrighi@hotmail.com
**" Enfermeira. Doutora em Enfermagem, Professor Adjunto no Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria/RS, Brasil. E-mail: cris_depaulal@hotmail.com
***** Enfermeira. Doutora em Enfermagem, Professor Associado no Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza/CE, Brasil. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. E-mail: lbximenes2005@uol.com.br


RESUMO

Para o planejamento da assistência às puérperas internadas em alojamento conjunto é importante conhecer suas características com vistas a uma atenção de qualidade e segura. Objetivo: Caracterizar o perfil sociode-mográfico e obstétrico das puérperas internadas no alojamento conjunto. Material e método: Trata-se de um estudo descritivo, quantitativo realizado com 322 puérperas de um Hospital Universitário, durante o período de dezembro de 2011 a março de 2012, por meio de um instrumento com perguntas fechadas e abertas para caracterização das puérperas. A análise descritiva das variáveis foi realizada através de frequências relativas e absolutas. Resultados: A média de idade foi de 26,4 anos, a maioria era solteira, multípara e com vivência anterior de amamentação. Também realizaram o pré-natal e parte delas fez parto cesáreo. Conclusão: Com isso, a caracterização das puérperas pode potencializar ações de cuidado que considerem o seu contexto, direcionando o cuidado e a assistência a estas mulheres.

Palavras chave: Alojamento conjunto, saúde da mulher, período pos-parto, enfermagem obstétrica.


ABSTRACT

When planning assistance to women admitted to rooming-in care, it is important to know their characteristics in order to provide safe and high-quality care. Thus, this study aimed to characterize post-partum women admitted to rooming-in care socio-demographically and obstetrically. Method: This is a descriptive quantitative study, conducted with 322 post-partum women at a university hospital, during the period between December 2011 and March 2012, using an instrument with closed and open questions in order to obtain the mothers' profile. A descriptive analysis of data was performed through absolute and relative frequencies. Results: The average age was 26.4 years, most of them were single, multiparous and had prior experience on breastfeeding. Besides, they all went through pre-natal care and some of them gave birth by caesarian section. Conclusion: The characterization of post-partum women may increase possibilities for nursing action, considering the context, directing care and assistance to these women.

Keywords: Rooming-in care, women's health, postpartum period, obstetric nursing.


RESUMEN

Con miras a planificar la asistencia a las puérperas ingresadas en un alojamiento conjunto es importante conocer sus características para lograr una atención de calidad y segura. Objetivo: Caracterizar el perfil socio-demográfico y obstétrico de las puérperas ingresadas en el alojamiento conjunto. Material y método: Se trata de un estudio descriptivo, cuantitativo, desarrollado con 322 puérperas de un Hospital Universitario, durante el período comprendido entre diciembre de 2011 y marzo de 2012, mediante un instrumento con preguntas cerradas y abiertas para caracterización de las puérperas. El análisis descriptivo de las variables fue efectuada por medio de frecuencias absolutas y relativas. Resultados: El promedio de edad fue de 26,4 años, la mayoría era soltera, multípara y con experiencia anterior de lactancia. También realizaron el prenatal, y una proporción de ellas tuvo un parto por cesárea. Conclusión: La caracterización de las puérperas puede potenciar las acciones de atención que consideren el contexto, dirigiendo la atención y la asistencia a esas mujeres.

Palabras clave: Alojamiento conjunto, salud de la mujer, periodo postparto, enfermería obstétrica.


 

INTRODUÇÃO

O sistema de alojamento conjunto foi criado com o intuito de aproximar mãe e filho nas primeiras horas após o parto, proporcionando aos pais e familiares maior interação e participação nos cuidados do recém-nascido (1). Configura-se como um sistema hospitalar em que, logo após o nascimento, o recém-nascido sadio permanece com a mãe em um mesmo ambiente, até a alta hospitalar (2).

Esse sistema possibilita que a equipe de saúde preste cuidados assistenciais necessários à mulher e seu filho. Ainda, o alojamento conjunto tende a promover o aleitamento materno em livre demanda e sua manutenção por tempo prolongado, fortalecer o vínculo entre mãe e filho, incentivar a presença do pai e de outros familiares durante a internação, além de possibilitar a orientação da puérpera quanto aos cuidados com o recém-nascido e com ela mesma (2).

A internação em alojamento conjunto é um período de intenso aprendizado para a puérpera e sua família, principalmente, para as primigestas, pois é uma oportunidade de aumentar a sua confiança referente aos cuidados com o recém-nascido e com a amamentação. A internação no alojamento conjunto é de, pelo menos, 48 horas, o que pode permitir a detecção precoce de complicações pós-parto ou de afecções neonatais, além da troca de experiência entre profissionais da saúde e puérpera (2).

Ainda, a permanência nesse ambiente possibilita a promoção do aleitamento materno logo após o parto, favorecendo sua manutenção até o sexto mês de vida exclusivamente e após complementado. Em estudo a respeito da prevalência do aleitamento materno ainda no alojamento conjunto, observou-se que a probabilidade de as crianças estarem sendo amamentadas nos primeiros dias de vida superam 90%, com queda mais acentuada a partir do quarto mês (3).

Tendo em vista este índice e o planejamento da assistência às puérperas internadas em alojamento conjunto, é importante conhecer suas características, pois possibilita a organização de uma atenção de qualidade e segura às puérperas e seus filhos (4). Destaca-se o profissional enfermeiro, pois é quem gerencia o cuidado em uma unidade de internação e, assim, pode planejar o cuidado adequado, atentando para as particularidades de cada mulher (5).

Revisão de literatura

O cuidado de enfermagem às mulheres acompanha todas as fases da vida, inclusive a fase reprodutiva. O enfermeiro e a equipe de enfermagem, nessa fase, são responsáveis pelo acompanhamento pré-natal, pela assistência ao parto e pelos cuidados no puerpério imediato e tardio (5,6).

Assim, o puerpério se define como o período em que as mudanças corporais e psicológicas provocadas pela gravidez e parto retomam o seu estado pré-gravídico. Inicia-se, logo após o parto, com a expulsão da placenta e se finaliza em período indeterminado, geralmente após seis semanas. Além disso, pode ser dividido em imediato, tardio e remoto (6).

O período imediato se inicia logo após a dequitação placentária e se estende até o 10° dia de pós-parto, e ocorrem modificações necessárias ao retorno do organismo da mulher aos padrões pré-gravídicos. No tardio, que vai do 1 Io dia até o 45° dia de pós-parto, ocorrem manifestações involutivas de recuperação e regeneração da genitália da mulher. E, por fim, o puerpério remoto tem período impreciso, pois acompanha o processo de lactação, permeado por processos físicos, sociais e psicológicos, inerentes a maternidade (6).

Destaca-se que o puerpério imediato é a fase em que as mulheres encontram mais dificuldades em desempenhar o papel de mãe, pois é quando ocorrem adaptação e instrumentalização para o desenvolvimento da maternidade e dos cuidados com o recém-nascido. Estudos apontam que as maiores dificuldades relatadas pelas mães estão relacionadas com o banho do recém-nascido, cuidado com o coto umbilical, identificação do choro e, principalmente, as dificuldades com a amamentação (6,7).

Nesse contexto, a enfermagem visa estimular a puérpera a realizar o autocuidado e o cuidado com o seu filho durante sua internação no alojamento conjunto. A mulher é encorajada constantemente a executar essas tarefas, denotando assim uma abordagem assistencial baseada na educação e na orientação à saúde, para que as mulheres adquiram segurança e tranquilidade ao assumir seu papel de mãe (8).

Considerando as modificações e adaptações vivenciadas pelas mulheres no período puerperal, ressalta-se a importância do enfermeiro prestar um cuidado integral e singular, priorizando as especificidades de cada mulher por meio de um atendimento humanizado. A assistência integral deve superar o enfoque reducionista e hegemónico nos serviços de saúde, e adotar práticas que favoreçam o reconhecimento dos contextos que permeiam a vida das mulheres, como os psicológicos, sociais, culturais, sexuais e ambientais (2).

Assim, torna-se necessário conhecer as características das puérperas internadas, seus contextos sociais e dificuldades relacionadas ao período gravídico-puerperal. Para tal, o objetivo do estudo foi caracterizar o perfil sociodemográfico e obstétrico das puérperas internadas no alojamento conjunto.

MATERIAL E MÉTODO

Caracteriza-se como um estudo descritivo, com delineamento transversal, fundamentado na abordagem quantitativa. Teve como campo de estudo a Unidade Toco-Ginecológica de um hospital universitário, localizado na região centro-oeste do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.

A população do estudo foi composta por mulheres no pós-parto imediato (Io ao 10° dia) atendidas no alojamento conjunto do referido hospital. Foi utilizada uma amostra de 322 puérperas, calculada com 5% de precisão, intervalo de confiança de 95%, nível de significância de 0,05 e erro amostrai de 0,05; com base no número de partos na instituição em 2011 (1.938 partos).

Os critérios de inclusão foram: mulheres no período puerperal imediato, com mais de 12 anos de idade e internadas no alojamento conjunto acompanhadas do recém-nascido com boa vitalidade, capacidade de sucção efetiva e controle térmico. Os critérios de exclusão foram: mulheres que apresentaram intercorrências clínicas no momento da coleta de dados; intercorrências obstétricas no período puerperal; puérperas com alguma dificuldade de compreensão e expressão verbal; condição materna infecciosa que impossibilitava ou contraindicava o aleitamento materno; e puérperas com filhos internados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal.

A coleta de dados ocorreu de dezembro de 2011 a março de 2012. Para selecionar as participantes, segundo os critérios de inclusão, foi utilizado o prontuário da puérpera, de acordo com a demanda de internação na unidade.

A coleta foi realizada por fonte primária (diretamente com as puérperas), no próprio leito delas ou em sala reservada, conforme sua preferência, mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Após, foi aplicado o instrumento de coleta de dados para caracterização das puérperas, tendo como variáveis: faixa etária, estado civil, escolaridade, renda familiar, trabalho, uso de álcool e/ou drogas, número de filhos, vivência de amamentação exclusiva e seu período, pré-natal, tipo de parto, idade gestational, contato com o filho após o parto e recebimento de orientações de aleitamento materno antes e após o parto.

Dados coletados foram processados e analisados de forma eletrônica, a partir da construção de um banco de dados com base no software Epi Info versão 3.5, com dupla digitação independente para garantir a exatidão dos dados. A análise descritiva das variáveis foi realizada no software Statistical Package for Social Science (SPSS, versão 17.0), por meio de frequências relativas e absolutas.

O estudo foi aprovado pelo Comité de Ética em Pesquisa em novembro de 2011 sob n° CAAE (Certificado de Apresentação para Apreciação Ética): 0323.0.243.000-11.

RESULTADOS

As idades variaram de 13 a 46 anos com média de 26,4 anos (DP= ± 6,70), conforme mostra a Tabela 1.

No que se refere ao estado civil, elas se consideraram solteiras (213; 66,15%) e com ensino fundamental incompleto (115; 35,71%) (Tabela 1).

A respeito da renda mensal familiar, a média foi de 1,9 salários mínimos (DP= ±0,49), sendo que parte delas (243; 75,47%) possuía renda igual ou menor a três salários mínimos e viviam, além da mulher e do filho, mais duas pessoas dependentes dessa renda (117; 36,34%) (Tabela 1). Mais da metade das puérperas relatou não trabalhar (216; 67,08%), das que trabalhavam 66 (20,49%) tinham a carteira assinada, e destas, 12 (18,18%) trabalhavam como empregadas domésticas. Das puérperas que trabalhavam sem carteira 9 (22,50%) eram autónomas (Tabela 1).

Tabela 1. Distribuição das puérperas segundo os dados sociodemográficos. Santa Maria, Rio Grande do Sul/Brasil, 2013 (N= 322).



Referente à alguns hábitos, quase a meta de das puérperas (162; 50,31%) afirmou não ser fumante, sendo que 69 (21,43%) eram fumantes passivas, ou seja, residiam ou trabalhavam no mesmo ambiente que outros fumantes. Outra prática não recomendada durante a gestação é a ingestão de bebidas alcoólicas, no entanto, um pequeno número de puérperas (65; 20,19%) admitiu tal consumo raramente durante a gestação e quase a totalidade das puérperas (320; 99,38%) não utilizava nenhum tipo de drogas (Tabela 1).

Quanto às gestações anteriores, observa-se na Tabela 2 que 214 (66,46%) possuíam outros filhos, sendo que 102 (47,66%) tinham mais um filho nascido vivo. Com relação à vivência de amamentar algum filho anterior, quase a totalidade delas (196; 91,59%) tiveram essa vivência e 136 (69,39%) o fizeram exclusivamente. O período de aleitamento exclusivo mais prevalente foi de cinco a seis meses (n=90; 65,69%), tendo como média 4,5 meses (DP= 0,83) (Tabela 2).

Tabela 2. Distribuição das puérperas segundo os antecedentes obstétricos. Santa Maria, Rio Grande do Sul/Brasil, 2013 (N=322).

As mulheres que amamentaram foram questionadas a respeito dos principais motivos que as levaram a amamentarem seus filhos, a maioria delas (181; 92,30%) indicou a preocupação com a saúde do filho (a) e o desejo de amamentar (134; 68,40%), destacando-se que as mulheres poderiam indicar mais de um motivo. Esse fato denota que as puérperas têm conhecimento a respeito dos benefícios que o leite materno proporciona ao filho.

Além disso, as puérperas que amamentaram afirmaram ter gostado de amamentar o(s) outro(s) filho(s) (188; 95,92%) (Tabela 2), sendo considerado um fator de motivação para que ocorra novamente. As mulheres que não amamentaram indicaram que o principal motivo para tal atitude foi a crença que seu leite era insuficiente ou que ele havia secado (10; 55,60%).

De acordo com a gravidez e puerpério atuais, identificou-se que a maioria das puérperas (309; 95,96%) havia realizado o pré-natal, e 198 (64,10%) consultaram mais de seis vezes, conforme a Tabela 3. No que se refere às orientações a respeito do aleitamento materno, pouco mais da metade das mulheres (164; 53,07%) informaram não ter recebido nenhuma orientação durante o pré-natal. Das puérperas que receberam orientações de amamentação, estas foram feitas pelo médico (83; 57,24%) (Tabela 3).

Tabela 3. Distribuição das puérperas segundo os dados obstétricos da gestação e puerpério atual. Santa Maria, Rio Grande do Sul/Brasil, 2013 (N=322).


Quanto ao tipo de parto, predominou a realização de parto cesáreo (205; 63,66%), com idade gestacional ao nascimento de 37 a 41 semanas e seis dias (275; 85,40%), denotando que eram recém-nascidos a termo. A maioria das puérperas (267; 82,92%) referiu ter tido contato físico com o bebé após o parto na primeira hora, entretanto, o bebé foi colocado para sugar após a primeira hora de pós-parto (206; 63,98%) (Tabela 3).

Parte das puérperas (208; 64,60%) referiu ter recebido orientações a respeito da amamentação após o nascimento do filho, sendo que estas orientações foram realizadas pelo enfermeiro (150; 72,18%) (Tabela 3).

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

Identificou-se que as mulheres estavam em plena fase reprodutiva, porém já considerada uma idade mais avançada para ter o primeiro filho, devido a fatores como a inserção da mulher no mercado de trabalho, a melhoria nas técnicas de contracepção e sua distribuição gratuita, além da existência de programas voltados à educação sexual que proporcionam às mulheres informações a respeito da saúde reprodutiva, colaborando para gestações e partos programados (9).

O fato de declararem-se solteiras é um fator convergente com o perfil sociodemo-gráfico da mulher brasileira (7) e reflete as questões sociais de mulheres que moram sozinhas e são responsáveis pelo domicilio. Ao considerar o puerpério imediato, as mulheres encontram dificuldades em desempenhar o papel de mãe sozinha, devido a adaptação para a maternidade e para os cuidados com o recém-nascido (10). Em alguns casos as puérperas casadas têm maior estabilidade nas relações conjugais, o que pode favorecer o apoio do marido/companheiro no compartilhar das responsabilidades e dificuldades cotidianas (11).

Da mesma forma, o grau de escolaridade pode influenciar no cuidado do recém-nascido, além de interferir no sucesso do aleitamento materno, pois a baixa escolaridade das mães pode dificultar a eficácia das ações educativas de promoção ao aleitamento materno, além de estarem mais vulneráveis às influências familiares, por meio de práticas que possam prejudicar a amamentação (12-14).

O trabalho materno pode estar associado à diminuição da oferta do aleitamento materno exclusivo após os três meses de idade, pois, nesse período, algumas mulheres retornam da licença maternidade. Este fato demonstra não só a importância das ações de proteção ao aleitamento materno, mas também da orientação para que as mães ordenhem seu leite, a fim de manterem seus bebés em aleitamento mesmo quando estiverem ausentes (12).

Além disso, é necessária a compreensão dos empregadores para que a mulher usufrua do seu direito de nutriz e possa garantir a continuidade ao aleitamento materno. A diminuição da jornada de trabalho, a tolerância de períodos de trabalho para amamentar o filho, ou, ainda, interromper a atividade para a ordenha do leite materno, são atitudes de proteção e apoio no âmbito laboral e que influenciam na manutenção da amamentação (15).

O período gravídico-puerperal é marcado por uma série de emoções e alterações orgânicas na mulher, porém algumas mudanças do meio social podem trazer impactos negativos à sua saúde e da criança. Dessa forma, pode-se destacar o uso de drogas por mulheres em que as variáveis psicológicas, ambientais e emocionais podem ser precursoras de hábitos/vícios como abuso de álcool, tabaco e outras drogas (16). A exposição da gestante a substâncias psicoativas pode ser prejudicial ao desenvolvimento do feto e causar partos prematuros, descolamento prematuro de placenta e outras complicações durante ou após o parto, visto que esses tipos de drogas atravessam facilmente a barreira placentária (16).

Com relação à história obstétrica, estudos apontam que quanto maior o número de filhos anteriores, maior a experiência materna e sua segurança para lidar com o recém-nascido, criando uma condição favorável à amamentação (13, 17). O processo de amamentação apesar de ser considerado simples não se configura como um processo totalmente instintivo, ele está ligado a um comportamento apreendido por meio das gestações anteriores, informações de outras mulheres mais experientes, pela observação, e deve ser incentivado pela família (18). A vivência em ter amamentado anteriormente pode indicar uma tendência para a continuidade da amamentação por seis meses ou mais (19).

Preocupar-se com a saúde do filho associado ao desejo de amamentar contribuem para o processo decisório da mulher de iniciar e manter essa prática. Apoderar-se desses conhecimentos, seja pelos meios de comunicação ou da orientação do profissional de saúde, facilitam a conquista da autonomia para a manutenção do aleitamento materno (20).

Além de conhecer o antecedente obstétrico das puérperas, ressalta-se a importância de um acompanhamento pré-natal de qualidade, por ser uma oportunidade de detecção precoce de alterações na mãe e em seu bebê. Também é o momento em que o profissional deve promover a educação em saúde e identificar o conhecimento, a experiência prática, as crenças e a vivência social e familiar da gestante (21).

Quanto ao número de consultas de pré-natal, os dados do presente estudo estão em conformidade com o preconizado pelo Ministério da Saúde, de pelo menos seis consultas, como requisito mínimo de qualidade (2). Destaca-se que a maioria das mulheres não recebeu nenhuma orientação a respeito do aleitamento materno durante o pré-natal, o que remete a manutenção de um paradigma assistencial centrado na patologia e na queixa da usuária, em detrimento de um pré-natal com troca de informações referente às questões da gravidez, do puerpério e da puericultura.

O índice de partos cesáreos no estudo foi superior à média nacional que é de 40%, e ainda mais elevado que os 15% preconizados pela Organização Mundial da Saúde (22). O parto cesáreo pode estar ocorrendo aleatoriamente devido ao advento da medicalização da assistência obstétrica, ao aprimoramento de tecnologias e ao aumento da incidência de gestações com cesariana prévia. Mesmo diante da realização de cesárias, a análise estatística indicou que a maioria das mulheres tinha de 37 a 41 semanas e seis dias de gestação no parto, o que indica que crianças que nascem no tempo ideal tendem a ter um desenvolvimento mais saudável do que os prematuros.

Os profissionais da saúde também promovem o vínculo entre mãe e filho, que se configura como um fator essencial para a manutenção do aleitamento materno. Quanto mais precoce for o contato da mãe com o bebé mais rapidamente serão estabelecidos seus laços afetivos (15), sendo o aleitamento um facilitador para essa aproximação.

O contato precoce está relacionado a benefícios como o maior tempo de duração do aleitamento materno, o menor risco de morte neonatal e a diminuição do choro do bebé que é amamentado precocemente. Assim, a amamentação na primeira hora de vida promove esse contato que está preconizado nos Dez Passos da Iniciativa Hospital Amigo da Criança, integrado a uma política pública de promoção da amamentação e de redução da mortalidade infantil (17).

Após o parto, a mulher permanece sob os cuidados da equipe de enfermagem, permitindo que o enfermeiro esteja mais próximo da puérpera e, assim, tenha uma abordagem assistencial baseada na educação e na orientação para o aleitamento materno. Além disso, a equipe multiprofissional se mostrou atuante na realização de orientações ao aleitamento materno, possibilitando o reforço das orientações e ampliando a troca de experiências entre profissional e usuário, o que qualifica o cuidado e prepara a mãe para a alta (22).

O estudo possibilitou o conhecimento do perfil sociodemográfico e obstétrico das puérperas, apontando possibilidades de intervenção pela enfermagem. Tais intervenções devem ser realizadas desde o pré-natal, parto e puerpério, e continuadas até a puericultura, para que a mulher e seu filho sejam assistidos desde o início do processo graví-dico e acompanhados durante o desenvolvimento da criança.

Para tanto, a caracterização das puérperas pode indicar possibilidades de atuação do enfermeiro, no sentido de potencializar ações de cuidado que considerem o contexto, direcionando o cuidado e a assistência a estas mulheres.

Como limitações do estudo, destacam-se as questões do uso de álcool e drogas que é visto como um comportamento prejudicial a saúde da mulher e do seu filho, no entanto, a técnica de coleta de dados não permitiu um aprofundamento para abordagem desta questão, o que suscita novas investigações. Além do viés de memória com relação ao período de aleitamento materno exclusivo dos filhos anteriores que pode estar subestimado.

 

REFERÊNCIAS

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Fecha recepción: 02/03/15 Fecha aceptación: 18/04/16

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